'Educação é tesouro que levei da cadeia', diz homem inocentado após 23 anos de prisão
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Inocentado hå 11 anos, americano då palestras falando sobre importùncia da educação na vida de jovens (Foto: BBC) |
Nick Yarris tinha 20 anos quando foi condenado Ă morte nos Estados Unidos por um crime que nĂŁo cometeu. Ele passou 23 anos em confinamento solitĂĄrio e afirma que foi torturado.
Sua vida tornou-se um sofrimento tĂŁo grande que chegou a pedir que fosse executado, mesmo sabendo que era inocente.
HĂĄ 11 anos ele foi libertado graças a avanços na tĂ©cnica de identificação por DNA – e, agora, diz sentir-se agradecido pela experiĂȘncia que teve na prisĂŁo.
Longe de ter ressentimentos, Yarris viaja pelo mundo falando sobre como a passagem pelo sistema carcerĂĄrio o ajudou a ser uma pessoa melhor.
O americano, cujo caso é relatado no documentårio Fear of 13 ("Medo do 13", em tradução livre), falou com o programa Newshour, da BBC.
O americano, cujo caso é relatado no documentårio Fear of 13 ("Medo do 13", em tradução livre), falou com o programa Newshour, da BBC.
Ele contou como passou os primeiros anos de sua pena preso numa cela de isolamento, sem poder falar.
"Eu não sabia o que era raiva até então. Batia minha cabeça na parede de raiva e frustração", disse à BBC.
"Foi sĂł por causa da amabilidade e da compaixĂŁo de um carcereiro que me deu alguns livros e me ajudou a ler que mudei tudo e parei de ser amargo ao longo dos anos."
"Foi sĂł por causa da amabilidade e da compaixĂŁo de um carcereiro que me deu alguns livros e me ajudou a ler que mudei tudo e parei de ser amargo ao longo dos anos."
Terapia de palavras
Yarris afirma que a educação a que teve acesso na prisão mudou sua vida. Ele era um homem de muito poucos recursos quando entrou na prisão em 1981, acusado de violentar e matar uma jovem no Estado de Pensilvùnia.
Yarris afirma que a educação a que teve acesso na prisão mudou sua vida. Ele era um homem de muito poucos recursos quando entrou na prisão em 1981, acusado de violentar e matar uma jovem no Estado de Pensilvùnia.
Ele foi preso pela polĂcia ao dirigir um carro roubado sob o efeito de anfetaminas.
Em uma tentativa de escapar da prisĂŁo, disse aos policiais que sabia quem tinha matado a jovem, de cuja morte ele ficou sabendo pelos jornais.
Mas a estratégia deu errado quando as autoridades descartaram o suposto homem apontado por Harris como suspeito e o acusaram.
"(Quando recebi a sentença) era o aniversårio de 50 anos da minha mãe, e o juiz não conseguia me olhar nos olhos, porque ia me condenar."
"Isso me deixou com muita raiva. Eu queria que ele me respeitasse. E cometi o erro de mandå-lo ir para o inferno quando ele proferiu a sentença. Os guardas foram brutais comigo", relembra.
Segundo Yarris, sua falta de conhecimento na Ă©poca limitou suas possibilidades de provar a prĂłpria inocĂȘncia.
"Eu tinha um jeito de falar horrĂvel e zombavam de mim. Foi muito difĂcil me defender sem poder falar bem", relembra.
Por isso, ele acabou usando o tempo na prisĂŁo para melhorar sua educação, seu vocabulĂĄrio e seu domĂnio da lĂngua – enquanto pensava em uma maneira de sair de lĂĄ.
O nome do documentĂĄrio, "Medo do 13", faz referĂȘncia Ă palavra triscaidecafobia – medo irracional do nĂșmero 13 –, uma das palavras que Yarris ensinou a si mesmo em seu projeto de saber mais.
10 mil livros
"A estrutura que construĂ atravĂ©s do 10 mil livros ou mais que li nos 23 anos que passei em confinamento solitĂĄrio se tornaram a base de uma fundação que Ă© indestrutĂvel para mim", diz o ex-condenado, hoje com 53 anos.
"A estrutura que construĂ atravĂ©s do 10 mil livros ou mais que li nos 23 anos que passei em confinamento solitĂĄrio se tornaram a base de uma fundação que Ă© indestrutĂvel para mim", diz o ex-condenado, hoje com 53 anos.
Da prisão ele também levou outro aprendizado, que diz considerar ainda mais valioso.
"O tesouro que eu levei de lĂĄ nĂŁo foi ouro, mas sim o belĂssimo conhecimento que adquiri sobre mim mesmo e uma educação maravilhosa."
"Nesses meus 11 anos de liberdade, consegui mais do que jamais sonhei", afirma, emocionado.
Desde que deixou a prisão, ele då palestras contando sua história, para "deixar uma mensagem para os mais jovens sobre como a educação pode empoderar alguém".
E também pede que as pessoas escrevam cartas para prisioneiros no corredor da morte
Ele escreveu dois livros de memĂłrias e vive na Inglaterra com sua esposa, que conheceu enquanto estava na prisĂŁo.
Mas Yarris tambĂ©m reconhece que a experiĂȘncia negativa que viveu o marcou para sempre.
"Ainda vivo com 11 ossos quebrados que nĂŁo se curaram totalmente, dois discos quebrados no pescoço, meu rosto foi destroçado e me falta parte do olho esquerdo. Vivo em agonia fĂsica todos os dias da minha vida."
"NĂŁo hĂĄ leis que possam compensar o que fizeram comigo, mas nĂŁo serei uma vĂtima disso, porque isso desconsidera as minhas açÔes."
Fonte: G1.com
Fonte: G1.com